sexta-feira, 4 de junho de 2010

O cinza das horas

E tudo era impossível e triste. O caminho cheio de pedras e na sombra os assassinos farejavam como cães criados sem amor. A sua prometida lhe zombara na face dos outros a tristeza que seus beijos lhe faltava. Uma ferida sem razão apareceu em seu corpo, e, como uma chaga sagrada, estava fadada a nunca ser curada. Solitário e triste, carregava nos bolsos apenas as lembranças dos mortos queridos. Cem vezes tropeçou na escuridão da noite, e cem levantou procurando a lua, que se escondia atrás das pesadas nuvens de outono. Seus lábios provaram da bebida amarga, e seus dedos alcançaram somente a areia do deserto, que se foi entre as brechas como a ampulheta que não pode ser detida.

O destino lhe ofereceu uma faca reluzente e afiada. Virado de costas, seu inimigo fumava um garboso cigarro e, embriagado pela prepotência, cantava para uma bela senhorita as destrezas que não possuía. Aproximando sob o manto escuro, o brilho da lâmina correu para dentro de seu casaco. Tocou de leve nos ombros da morte e lhe beijou a face. O tolo confiava que o amor podia lhe salvar.